SOMOS DOIS ABISMOS

Kopal Joshy

Um retrato do tempo que oscila entre a realizadora, um homem e um lago ligados pela sua cumplicidade.

No cimo das montanhas da Serra da Estrela um lago permanece em silêncio, parado e congelado. Perto dali, num pequeno apartamento, no cimo de uma prateleira de madeira, um relógio permanece em silêncio, parado e congelado no tempo, 13:27 em ponto, e ao seu lado um calendário parado no dia 8 de Janeiro de 2016. Ambos, o lago, o relógio, e o calendário estão congelados há muito tempo.

Carlos, um homem suspenso num determinado momento da sua vida encontra-se confinado, com uma jovem realizadora, na sua pequena casa, nas montanhas da Serra da Estrela, por força das circunstâncias, ela torna-se sua confidente. A presença dela altera a ordem do seu isolamento, da sua existência dedicada ao luto pela sua companheira, Trudy, a quem escreve inúmeras e eternas cartas de amor. À medida que a relação entre os dois (Carlos e a realizadora) amadurece, ao longo das estações e de encontros esporádicos, aproximamo-nos do estado de alma deste homem, e subitamente, o lago que a trouxe até ele começa a parecer-nos espelhar o abismo do homem.